Tradução do Coletivo LiteraLatino
[Integrantes: Amanda Lima de Paula, Filipe de Lima Albrecht, Júlia Queiroz de Campos, Laura Veras Sobral, Marcelle de Souza Cruz, Maria Clara Machado, Rafael Silveira Lopes, Vitória Vasconcelos]
Essa é uma história comum. Mas eu vou contar a essas pessoas que estão aqui comigo deitadas sobre a grama onde ocorreu o desvio e nos deixaram abandonados. Na verdade, ninguém parece ouvir nem querer nada. Eu insisto, no entanto, porque não posso acreditar que alguém não se levante e grite como eu ao cair. Ainda que me fizessem perguntas ao invés de me responder. Algo tão brutalmente definitivo como essa aterrissagem sem tempo.
O conheci em uma manhã qualquer em uma estação de trem enquanto a multidão se aglomerava como sempre para afirmar seu ego. Me lembro de um menino com poucos anos na calçada com um monte de balões presos por um fio. Alguns dos que passavam e o viam chorar pela falta de vento assopravam os balões por baixo a fim de fabricá-lo. Eu e aquele que viajou depois na minha cabine tínhamos nos juntado ao grupo que assoprava quando, ao levantar as cabeças, nos vimos entre os balões e a gargalhada do menino.
Não sei se por causa das circunstâncias, no meio de tantas cores ou por força da ilusão, ele me pareceu tão bonito e quem sabe ele sentiu o mesmo. O certo foi que até alguns segundos atrás não parávamos de nos olhar, e isso é muito.
O desconhecido pegou minha mala do chão, colocou sobre o ombro uma mochila em que se podiam ver as silhuetas das frutas e me colocou no assento, tratando de satisfazer todos os desejos que a gente expressa esperneando numa certa idade, e que depois defende com melhor educação quando cresce, isto é: um assento de janela virado para a frente, no sentido da máquina.
Havia, ainda me lembro, um outro lugar em frente ao nosso, ocupado por dois indivíduos com grandes cestos que bloqueavam com suas enormes cabeças o espelho em que talvez poderíamos ver o nosso reflexo. Embora, para dizer a verdade, não tenha demorado muito para percebermos as vantagens do olhar direto.
De repente, meu companheiro, tão jovem como eu, mas muito mais treinado em certas técnicas, pegou minha mão e a colocou entre as suas. Seu toque, quente e seco, me fez mergulhar em uma vertigem comparativa em que desfilavam todas as outras mãos moles, úmidas ou assépticas que é preciso suportar com repugnância ou sem vontade, quando ele aproveitou aquela espécie de permissão para levar meus dedos aos seus lábios e beijá-los um por um, de forma pura e entregue, sem se preocupar, minimamente, com os espectadores míopes em frente.
Enquanto isso, o trem já havia começado a andar com seu famoso tchuc tchuc para o deleite de todo mundo. Eu estiquei as pernas até os cestos do vizinho e fechei os olhos em meio à felicidade máxima. Então o homem jovem ao meu lado perguntou em um tom terno e cúmplice:
– Então também gosta deste ruído, não é?
– Sim, eu gosto – disse eu já à beira do êxtase – seria capaz de qualquer loucura quando começo a escutá-lo.
– Incluindo me querer?
Ora, que pergunta! Pensei sem responder. Se o havia deixado avançar de tal forma, desde a troca de olhares até aqueles beijos disparados tão diretamente em direção ao meu sangue, era porque algum mecanismo de frenagem tinha se descontrolado subitamente, e então não havia necessidade de explicações.
O trem ia aumentando a velocidade, entrando no lugar comum dos assobios. Se misturavam as coisas através do vidro, o pássaro com a árvore, a casa com o jardim e as pessoas, o céu com a fumaça e com o nada. Tive por breves instantes a impressão de uma fuga fora do normal, quase um desprendimento. Ele pareceu ler meus pensamentos e, como quem tira uma bala do bolso, ofereceu-me um sorriso especial, da marca que usava para tudo. Eu tentei retribuir.
– Gosto muito de teus dentes – disse – São do tipo que andava buscando, aqueles que brilham quando se chocam com a luz e parecem rompê-la. Que difícil é tudo, e ao mesmo tempo, que simples quando acontece…
Ele começou a beijar-me tão impetuosamente como se fosse uma despedida, mas também como se todo o exercício anterior a beijar fosse puro entulho, ou apenas um desperdício de calorias.
– O que tem em sua bolsa? – perguntei com o último fôlego que me restava, para desviar aquela intimidade vertiginosa.
– Algumas roupas e utensílios de barbear. – disse. – Bom… – acrescentou com certa malícia -, E maçãs. Quer uma?
Maçãs! – exclamei, entrando em seu sistema -, meu segundo capricho depois do ruído do trem. Mas, nesse caso, gostaria de compartilhar uma maça às dentadas. Sobretudo para mostrar que são naturais – acrescentei, exibindo minhas duas fileiras de dentes.
Depois do episódio um pouco nebuloso daquela primeira refeição, da qual nunca me lembrarei se foi almoço ou jantar, vi com certa decepção que ele começava a olhar seu relógio de pulso.
– Raios! – disse de repente – Sete dias já! Que infalível matemática em tudo isso.
– Como? Que é isso de sete dias, se acabamos de embarcar neste desgovernado trem expresso?
Foi nesse momento que tive que começar a sair da minha penumbra mental, por causa de suas palavras.
– Veja – explicou -, os caras do cesto mudaram de vagão no primeiro dia. Eles e muitos mais, aparentemente por conta de divergências conosco. E o homem dos bilhetes veio em várias oportunidades, que eu ia renovando a cada manhã.
– Aquele indivíduo sem rosto, vestido de cinza, que creio ter visto, não sei se sobre o chão ou preso ao teto como uma mosca?
Meu companheiro inaugurou algo que eu não conhecia, uma gargalhada que fez girar todos os pescoços até nós.
– Sim – finalmente respondeu. – alguém que não chamaria mais a atenção que os botões de sua jaqueta. Mas observou nossas mãos com tão feroz insistência de camponês casamenteiro, que tive que colocar esse anel em você enquanto dormia.
– Vou despejar muita água na minha cabeça desta vez – disse, no final de sua última palavra – porque isso de eu dormir assim de repente não cola. Parece um relato com o personagem errado – acrescentei me incorporando.
– Digamos que primeiro foi a questão da maçã entre dois, e logo que você dormiu ao meu lado – ele explicou, como diminuindo a importância dos fatos -. É o que acontece normalmente quando já se passou certo tempo. E que depois deverá se repetir até tocar o fundo – acrescentou ainda, olhando para sua misteriosa provisão de maçãs.
Tudo aquilo estava me parecendo algo fora demais do habitual, como um desafio pelo enigma. Mas misturados ao delírio, estavam ancorados elementos objetivos de tal validez, que eram capazes de obrigar a acreditar no conjunto, contra qualquer protesto.
Nos encontrávamos, entretanto, assimilando o ritmo do trem. E até da medida da velocidade, que no início se mostrava para nós pelas coisas externas fugindo na contramão, nos tornamos íntimos. Eu já ia individualizando os dias e as noites, os passageiros irritantes do outro assento e os que eram capazes de fechar os olhos mesmo sem sono.
Um dia, meu homem tirou uma calça de inverno de sua bolsa. Aquilo foi como o fim de meu doce trânsito na idiotice, uma espécie de golpe de graça que não vinha da sensação de cobrir-se com o novo vento frio que se infiltrava pelas frestas da janela.
– Você viu? – disse-me em tom de reprovação, tratando de esticar a roupa -, estava bem dobrada pela minha mãe e você fez essa bagunça.
Eu olhei para ele com certo ar bobo que ficou pendurado no espelho da frente.
– É que nunca dobrei as calças de ninguém – gemi -, mas isso deveria ser qualquer coisa, menos um motivo para o insulto.
Eu já ia colocar em jogo o recurso quase esquecido de chorar quando ele, detendo minhas lágrimas com a mão, tratou de consertar a situação.
– Observe – explicou -. Uma desgraçada de uma calça se dobra assim, pegando por baixo e fazendo coincidir as linhas das pernas. Logo já poderá dobrar em dois, ou em quantas partes se queira.
Céus, que descobrimento. Mas eu seguia com a umidade no nariz, essa pequena gota que vem da ofensa, atrás da linha dos resfriados comuns. O incidente evaporou passeando de mãos dadas pelos corredores, indo jantar fora do camarote, olhando a noite estrelada que corria ao reverso do tempo. Confesso agora aquela sensação de ir no sentido contrário de algo, algo que nos arrancava pedaços com os dentes, mas cuja dor não era o que deveria ser dada a dimensão da pilhagem.
– Você prefere fumar aqui ou comer nossas maçãs no compartimento? – ele me disse de repente, com uma voz madura que ia baixando de forma progressiva.
Deixamos todos boquiabertos, agarrados ao nome real das coisas com a coesão de um banco de ostras. Para nós, comer maçãs era a significação total do amor, e nos locupletávamos do seu desgaste como se tivéssemos destampado os silos do verão.
Até que um dia ocorreu, simplesmente como vou contar e como deve ter acontecido a tantos. Ninguém anota o momento, é claro. Logo tudo cai de repente, e os escombros se apossam do último rastro.
– É que vou dizer-te de uma vez por todas – ele declarou, certa noite, na volta de uma comentada sessão de cinema -. Somente me entusiasmam os documentários, esses em que as pessoas e as coisas de verdade enviam uma mensagem direta. E os romances de aventuras, porque em tal caso sou eu quem vive tudo. Sou desde o primeiro momento o protagonista e basta.
Bocejou, atirou os sapatos para longe, apagou a luz e caiu num estupor de sono.
Mas a verdade é que ninguém vai assistir acordado ao sonho do outro, por mais às escuras que o deixem. Era oportuno, então, aproveitar a luminosidade que restava acesa dentro do vagão para começar a revisar as pequenas diferenças, fazer o inventário com tempo caso pedissem o balanço. Os homens sujos do assento da frente, lembrei, que ele escolhe para conversar porque, segundo seus paradoxos, conservam as mãos limpas. Aquilo que opinou sobre meu nojo das moscas ou dos espirros das pessoas nas padarias: sempre pequenas coisas entrando no jogo inicial como gafanhotos pela janela aberta. Mas que no final desembocavam em aproximações por colisão, em guerra de princípios. Fidelidade eterna das moscas contra minha repugnância. Humanidade que se comunica ao pão, versus as cargas microbianas do espirro. E todos os etcétera que pode conjugar um etcétera solitário assim que ele é solto. “Você disse que a guerra acabou como se passasse a limpo uma carta de adeus escrita por outro com as entranhas”, me censurou certa vez com tal temperatura emocional que foi suficiente para não voltar a repetir jamais aquelas quatro palavras. Sim, mas aquilo de cochilar no meu ombro com um leve ronco e certo fio de baba indiferente, enquanto um filme com vários prêmios embalava nosso sono, isso era algo mais que definitivo.
Quando o tipo sem rosto veio no dia seguinte para a renovação do bilhete, falei com ele sem olhá-lo:
– Espere que este desperte. Depois veremos quem segue no trem ou quem desce. Não será questão de continuar aqui a vida toda.
Ao pronunciar aquela última palavra senti algo suspeito no plexo solar, mas segui repetindo surdamente – vida, vida – em certo nível de suspeita sobre a espécie de armadilha em que pudesse ter caído. E isso já sem controle, pois o relógio extravagante tinha confundido as contas com o tempo.
Assim começou outro dia sem marca conhecida, com barbear matinal e escova de dentes. Então eu quis anunciar minha decisão retirando o anel de forma provocativa. Mas não me saía do dedo. Ele deixou de se barbear e começou a rir como o menino dos balões quando os viu subir de novo na longínqua estação inicial onde tínhamos nos conhecido.
– É que você engordou – disse ao fim -, isso não acontece com as minhas moscas, por exemplo, que vivem no ar emprestado e andam sempre num eterno alerta, até para seus banquetes mais inocentes.
– É que existem também fios verbais melhores que o dessa navalha – murmurei apertando as mandíbulas -. Mas chega o momento em que a gente pode explodir, querer pensar por si mesmo, discutir com seu próprio cérebro. Sim, esse cérebro que alguma vez já funcionou.
– Dramas – ele comentou retornando ao seu trabalho -. Ninguém veria tanto pecado em que até as mais caras neuroses gostem também do delicioso café com creme…
– Bom – continuei, esquivando as estocadas -, vamos ver esse relógio infernal. Quanto tempo faz que viajamos neste maldito trem, que deve ir pelos menos até Marte, até a Lua, segundo seus romances de cabeceira?
Ele limpou a navalha, guardou-a com uma paciência sem limites. Depois consultou o relógio, olhou-me nos olhos até o fundo de meu ser e voltou com a antiga fórmula:
– Sete anos já. O tempo certo para o que está acontecendo. Que infalível e exata precisão, Deus e seus encantadores enigmas…
Desta vez sua presunção quanto aos prazos irritou-me. Tinha vontade de desmontá-lo com algo contundente, um juízo irredarguível que nos deixasse quites, empatados em golpes baixos.
– E bem – confrontei-o surdamente -, não pense que eu não vi, que me é desconhecido. Nossas maçãs, aquelas que pareciam ser só para nós dois quando você lambia o suco dos meus cantos, eu te surpreendi dando-as, pelas minhas costas, atrás de algumas portas mal fechadas do comboio. E até te escutei falar depois em sonhos, dizendo nomes que não eram o meu. E muitas mais coisas que não quero trazer para que o mundo não comece a vasculhar nossas misérias. De modo que eu vou arrumar a minha mala e vou para outro vagão. Isso é o limpo, acho, esse é o jogo honesto, tenham passado ou não os famosos anos-chave.
Ele me deixou fazer. Estão me escutando ou não? Vocês aí, esparramados pela grama. Mas, ocorreu que ao chegar a noite, o barulho do trem, principalmente esse da suprema solidão com que atravessa as pontes, me impediu de dormir. Além disso, comecei a sentir sede e não encontrava o copo d’água, passei a ter frio e não encontrava nem os cobertores nem o interruptor da luz. Porque tudo havia mudado de posição ao meu redor, como na primeira noite de um imigrante em uma terra estranha. Quando o ouvi bater suavemente na porta me incorporei, agradecendo ao céu que passava como uma escova negra pelo vidro. E que depois deixou de existir. Embora talvez ele continue passando para outros que terão apenas isso, um pobre e vago céu para uma solidão tão grande.
– Você viu? – me disse, finalmente, ajudando-me a reiniciar a mudança -. Embora a gente esbagace um pouco atrás de uma porta entreaberta, as coisas estão tão bem arranjadas que as frutas da bolsa são suficientes para tudo.
Eu aprendi, desde então, a rir de mim mesma. Ademais, durante aqueles tempos de frenesi, inventamos o jogo de atirar objetos pela janela. Tínhamos espionado as pessoas sobrecarregadas de coisas. Tinham que dormir encolhendo as pernas. E outros até deixaram de se abraçar por falta de espaço. Essa nova concepção do espaço acabou por reacomodar o caos. E eu suponho agora que um dia memorável ele esqueceu também de dar corda ao relóginho por causa das minhas apreensões. “Se vive, o tempo está em nós”, me disse certa vez, quando eu insinuei a ideia, calcular quantos anos de homem teria agora o menino das bexigas através das quais nos conhecemos. Depois do frio que me percorreu a espinha por causa de suas palavras, nunca mais procuramos sinais metafísicos ao passar por esquinas perigosas.
Até que chegou esta noite. Que estranho, jamais tinha pensado na grande família de desconhecidos que se arrebentam no mesmo minuto, seja qual for a origem do acontecimento. Eu tinha os pés gelados. Me pareceu, também, que o trem tinha começado a andar em menor velocidade. Ainda que nada disso se pode expressar com uma língua meio rígida. Ele me colocou uma manta sobre as pernas, me tomou a mão, me beijou dedo por dedo como da primeira vez e adormeceu.
Então foi quando aconteceu. O homem sem rosto apareceu no assento contrário, em meio à escuridão absoluta a que nos obrigavam a essa hora. Percebi, no entanto, que aos poucos iam surgindo os traços desconhecidos, aqueles que nunca tinha tido tempo de descobrir. Algumas explosões da máquina me permitiram vê-lo de forma intermitente, como uma casa de campo embaixo de relâmpagos.
– Você – eu disse entre dentes -, tanto tempo alcançando-nos as coisas. Obrigado por tudo. Mas o que você quer?
O indivíduo me olhou com uma pena e uma crueldade tão entrelaçadas que teria sido impossível desfazer a mistura. Parecia ter algo imenso para me comunicar. Mas, já sem oportunidade, como alguém que lembra o nome esquecido de uma rua justamente quando percebe, ao passar, que demoliram a casa que estava procurando.
Mantive esse pensamento em meu cérebro o máximo que consegui, tentando que seu constrangimento poético e triste me separasse do homem. (Aquele que vivia na casa teria chamado alguma vez ao outro, quem sabe com que urgência secreta. Seu amigo não veio porque tinha esquecido a rua, o número). O homem, entretanto, não havia soltado nenhuma palavra, talvez puxando os detalhes de uma tarefa que parecia iminente. (Então – pensei ainda -, um dia, de repente, ele lembra de tudo, número, nome. Mas só quando passa por lá e vê que a casa foi removida).
– Bom – disse ao fim, como se assistisse ao desenlace da anedota -, nos aproximamos do desvio. E acredito que é você e não é ele quem eu devo empurrar por essa porta. Tente não o acordar, seria um gesto estúpido, uma cena vulgar e indigna de sua parte.
– Mas é que eu não posso cancelar isto sem aviso, e assim, no meio da noite. Você acompanhou o nosso lance desde o início…
Não me deixou nem agonizar. Percebi claramente o barulho da agulha ao fazer o desvio, transmitido dos trilhos para meu coração com um batimento diferente. E depois a minha queda violenta sobre a grama, impulsionada pelo homem sem rosto.
– Ei, onde está a estação, onde vendem os bilhetes de volta! O número, sim, esse está na minha memória, o número daquela casa demolida!
Foi então que o ouvi, na parte de atrás do comboio que se afastava sem mim e sem os outros.
– Que estação, que retorno, que casa…?
- Armonía Liropeya Etchepare Locino, conhecida como Armonía Somers, nasceu em Pando, Uruguai, em 1914, e morreu em Montevidéu em março de 1994. Se formou como professora na Escola Normal de Montevidéu, concluindo seus estudos em 1933. Teve uma carreira destacada como pedagoga e pesquisadora na área da educação. Autora de diversas publicações especializadas, entre elas, La antisocialidad juvenil en el Uruguay (1958), e Educación de la adolescencia (1957). Foi diretora da Biblioteca e Museu Pedagógico do Uruguai e do Centro Nacional de Documentação Educacional. A partir de 1971, deixa suas funções oficiais e se dedica por completo à literatura. Sua primeira obra de ficção, publicada em 1950, foi o romance erótico Una mujer desnuda. Publicaria outros quatro romances: De miedo en miedo (1965), Un retrato para Dickens (1969), Viaje al corazón del día (1986), e Sólo los elefantes encuentran Mandrágora (1986). Este último, escrito entre 1972 e 1975, explora as consequências de uma rara doença sofrida por Somers, o quilotórax. Publicou também diversas antologias de contos, entre elas El derrumbamiento (1953), Muerte por alacrán (1978), e Tríptico darwiniano (1982). Em sua obra, se destaca a mistura do terror, da violência e do erotismo. O conto “El desvio” foi publicado pela primeira vez no Suplemento dominical do jornal uruguaio El Día, em setembro de 1964, sendo depois incluído no livro La rebelión de la flor. Antología personal.